sábado, 29 de novembro de 2008

PORQUE EU AMO A BIBLIOTECONOMIA

Foi por ocasião das aulas de Fundamentos que comecei me apaixonar pela Biblioteconomia, pelo que ela representa e pelo que pode fazer em benefício do ser humano. Pude enxergar nesse aspecto da Ciência da Informação, a possibilidade de um mundo melhor, com mais oportunidades para os menos favorecidos. Entendi nela uma proposta para melhor compreensão entre as pessoas, pois afinal é o conhecimento que nos torna verdadeiramente sábios e livres.
Compreendi que na mão de um Bibliotecário estão milhares de destinos, e o conhecimento mediado por ele pode fazer muita diferença nas escolhas e decisões dos indivíduos, ainda que de forma indireta e pouco perceptível, e que o conhecimento bem organizado e bem distribuído por ele pode conduzir a um desenvolvimento humano mais harmonioso, mais autêntico, de modo que minimizar a pobreza, a exclusão social, as incompreesões, as opressões e até mesmo as guerras... Que diante dos múltiplos desafios do futuro, a biblioteconomia se posiciona como um trunfo à humanidade na construção dos ideais de paz, da liberdade e da justiça social, pois uma biblioteca bem articulada, possui condições de trazer os indivíduos à reflexão e compreensão do mundo, para a busca de direitos, como: saúde, liberdade, segurança, bem-estar econômico e participação social e política.
Por todas essas razões eu amo a Biblioteconomia e essas são as motivações para que haja esse BLOG. Todos os que sentem e pensam como eu são muito bem-vindos nesse lugar, - e os que não pensam também - onde poderemos refletir, discutir e apresentar idéias para avançar nas questões referentes à essa área do conhecimento.

A INFLUÊNCIA DA NOVELA NA VIDA DO BRASILEIRO É POSITIVA OU NEGATIVA?


Jurení de Farias Barella[1]
Flávia Maria de Jesus[2]

Resumo: Este trabalho discute a influência que a novela televisiva exerce na vida do povo brasileiro. Faz uma abordagem dos aspectos positivos e negativos que a mesma possui a partir da opinião de estudiosos a respeito do assunto e do poder que ela exerce no comportamento da população. Busca respostas para o porquê dessa forma de entretenimento e canal de informação ser tão envolvente a ponto de mobilizar milhões de pessoas em frente à telinha, sem distinção sexo, idade e classe social.
Palavras-chave: 1. Indústria cultural 2. Novela televisiva 3. Povo - Brasil 4. Comportamento


INTRODUÇÃO

Indústria cultural é o conceito utilizado para designar o conjunto de empresas e instituições cuja principal atividade econômica é a produção de cultura, como mercadoria para ser consumida, com fins lucrativos e mercantis. Neste sistema de produção se encaixam a TV, o rádio, o jornal, a revista, entretenimento em geral, que são elaborados de forma a aumentar o consumo, modificar hábitos, educar, informar, atingindo a sociedade como um todo.

Para Adorno e Horkheimer, da Escola de Frankfurt e criadores desse conceito, esses meios de produção e transmissão cultural são formas de dominação e poder, portanto uma violência simbólica. Para eles a serialidade, a repetição, a uniformidade, a padronização e a semelhança que caracterizam essa indústria, produzem a cultura de massa, como mercadoria, o que promove a morte da cultura e a alienação.

Milton Santos[3], geógrafo e humanista brasileiro diz que
O Brasil, pelas suas condições particulares desde meados do século 20, é um dos países onde essa famosa indústria cultural deitou raízes mais fundas e por isso mesmo é um daqueles onde ela, já solidamente instalada e agindo em lugar da cultura nacional, vem produzindo estragos de monta.
De pensamento oposto à escola funcionalista, representada por Dwigth Mac Donald, Edward Shills e Daniel Bell vêem nessa indústria a possibilidade de democratização do acesso da massa à cultura.

Umberto Eco, no seu livro Apocalípticos e integrados, p. 266, faz uma análise do pensamento frankfurtiano e funcionalista, e chama a atenção para o fato desses posicionamentos embutirem uma dificuldade dissimulada no trato desse material.

A novela, produto da indústria cultural massiva e objeto do estudo ora proposto exige antes do enfrentamento de sua problemática, que sejam desmistificadas algumas proposições dogmáticas em relação à sua influência na vida do povo brasileiro, caracterizada pela presença do emissor ativo e o receptor passivo, que resulta numa relação desigual de comunicação. Novas proposições têm sido feitas no sentido de equilibrar a relação entre emissor e receptor, por meio da interatividade, o que já é percebido nas últimas edições de novelas como Páginas da Vida e Pé na Jaca, onde o público participa e emite opiniões.

Para elencar, aspectos positivos e negativos desse meio de divulgação de idéias há de se considerar que a questão da massificação dos valores não está circunscrita ao momento da novela, mas estende-se a aspectos históricos, econômicos, sociais e culturais dessa sociedade, porque senão seria considerar a novela como única condição alienante do povo, além de promovê-lo a assistente em tempo integral.

A novela televisiva é um produto que apresenta nuanças sobre as quais ainda não há um consenso entre os interessados no assunto, como educadores, psicólogos, religiosos e o próprio telespectador, sobre esse meio de informação, entretenimento e lazer, recheado de cenas de sexo, violência e clichês, por um lado, mas por outro trazendo abordagens acerca de questões importantes como: preconceito racial, reforma agrária e desigualdade social. No entanto, seria ingênuo afirmar que a novela não exerce nenhuma influência no comportamento do brasileiro, e que a indústria cultural está apenas preocupada com o entretenimento e lazer do povo.

Novela, derivada do francês nouvelle, teve sua origem nos folhetins do século XIX. Na forma televisiva chegou ao Brasil nos anos 50, com o título “A vida por um fio” juntamente com o seu canal de exibição, a televisão, e nos primórdios era programação para donas-de-casa. Hoje abarca a população na sua totalidade. Possuidora de uma roupagem própria e aprimoramento técnico de imagem e som é um produto que faz parte do cotidiano de milhares de pessoas, que por opção ou falta dela são consumidores assíduos, em horário fixo. É uma produção para todos os gêneros, faixa etária e público diferenciado, como a novela Malhação, que é exibida aproximadamente às dezoito horas, para jovens adolescentes.

As novelas são acompanhadas de um bombardeio de propagandas, que não se restringe apenas aos intervalos, mas que se encontra embutida muitas vezes na própria novela.

Essa combinação de narrativa e publicidade exerce uma grande influência no consumo de produtos e comportamento. Um lançamento que aparece numa novela, rapidamente cai no gosto geral e um clichê - “não é brinquedo não”, por exemplo -, utilizado por um personagem torna-se parte da comunicação oral no dia-a-dia da maioria por algum tempo até ser substituído por outro.

A técnica e a necessidade, quase que obrigatória, de retratar o quotidiano proporciona cada vez mais a aproximação e identificação do telespectador com a ilusão de um universo, composto por classe alta, classe média e classe baixa, estabelece um pacto com o telespectador e delimita de que forma as novelas transitam entre classes e gêneros. A oposição entre o bem e o mal durante todo o enredo, finalizando com a punição para o último para os profissionais ligados a essa indústria, a novela não faz nada mais do que retratar a realidade brasileira.

Para Octávio Ianni[4],
O que singulariza a grande corporação da mídia é que ela realiza limpidamente a metamorfose da mercadoria em ideologia, do mercado em democracia, do consumismo em cidadania. Realiza limpidamente as principais implicações da Indústria Cultural, combinando a produção e reprodução do capital; e operando decisivamente na formação de "mentes" e "corações", em escala global. (p.17).

Num país como o Brasil, onde a educação na rede privada tornou-se mercadoria e a oferecida pelo Estado é de pouca qualidade, o déficit educacional[5] somado à carência de bibliotecas[6], o acesso restrito ao livro[7] combinado à baixa renda, faz da novela quase que a única opção para o povo adquirir “conhecimentos”, entretenimento e lazer.

A novela de época, por exemplo, não têm o cuidado de apresentar os fatos com fidelidade à História e revelam alto grau de preconceito. Por certo ambas as situações passam despercebidas pela maioria dos telespectadores, que pela falta de educação adequada não desenvolveram senso crítico a respeito do que vêem e do que ouvem e por isso não reivindicam produtos de melhor qualidade.

Para Milton H. Souza[8], a novela Sinhá Moça, exibida há pouco tempo, apresentou os fatos históricos da abolição da escravatura no Brasil de maneira tendenciosa, e segundo ele... “Na trama, a luta pela liberdade surge quase como que uma concessão ou "dádiva" protagonizada por iluminados sinhozinhos e sinhazinhas brancos, indignados com o sofrimento dos negros...” que foge da realidade histórica. Para o promotor de justiça e coordenador do Grupo de Atuação Especial do Combate à Discriminação - GEDIS Almiro Sena Soares Filho, “a novela, além de apresentar negros e negras como pessoas passivas, completamente dependentes de ‘heróis brancos’, distorce completamente a História na medida em que "omite os quilombos e as revoltas lideradas por negros". Também a novela “Terra Nostra” exibida há uma década, mostra uma completa distorção da composição racial do país daquela época. Segundo dados estatístico, por volta de 1870, dois terços da população brasileira era negra - muitos deles alforriados e desempenhando diferentes papéis na sociedade, apesar da violenta opressão racista existente. No mundo de "Sinhá Moça", há um único escravo livre e branco - Rafael - Eriberto Leão, transformado em uma versão masculina da "Escrava Isaura". A Rede Globo de Televisão se defende dizendo que “a novela é fruto de uma simples adaptação de uma obra literária que tem como objetivo entreter, informar e educar".

Um dos aspectos positivos dessa modalidade de entretenimento configura-se na novela “João da Silva”, da TVE, que num projeto inovador de alfabetização implementou um novo conceito no campo de educação de adultos. O problema aí, é que esse canal é pouco acessado pela massa populacional.

Cenas de nudez, sexo e violência em novelas é outra questão que suscita debate sobre os limites que devem ser impostos à televisão. Sem acesso à TV paga e, quase que restritos a dois ou três canais canal de televisão, o brasileiro comum que se propõe a assitir a programação exibida, está sujeito a ver o que quer e o que não quer.

De acordo com a revista Veja n. 29 - jul. 2006. p. 92, o depoimento de uma mãe e psicóloga, questiona: “Agora vamos precisar de bola de cristal para saber se o que passa na TV é adequado ou não para a família?, se referindo à cenas picantes da novela Páginas da Vida. Para a psicóloga Magdalena Ramos, USP no horário de 21 às 22 horas “há mais crianças diante da TV do que em qualquer outro horário” ; e numa pesquisa feita pela ONG Midiativa voltada para as relações entre as crianças e a TV apontou que os pais gostariam que a TV os ajudasse a transmitir valores para os filhos. Segundo essa mesma pesquisa os pais vêem aspectos positivos nas novelas quando abordam temas de interesse coletivo como a exclusão de doentes mentais, homossexualismo, preconceito racial entre outros.

Apesar de todos os problemas, na mesma hora e no mesmo canal lá estão todos integrados.
CONCLUSÃO

Não se trata aqui de negar a importância dos meios de comunicação, uma vez que, como diz Octávio Ianni (1999, p. 15), "além da competição evidente ou implícita entre os meios de comunicação de massas, ocorrem freqüentes irrupções de fatos, situações, relatos, análises, interpretações e fabulações que pluralizam e democratizam a mídia".
Dizer que a novela só possui aspectos negativos e que é o único fator de alienação do povo brasileiro seria um tanto desastroso.
Seguindo a lógica frankfurtiana, idade tal situação é inversa, ou seja, a indústria cultural gera determinados produtos feitos para o povo e não pelo povo. A ótica na qual a produção realizada fora do território da massa jamais poderia representá-la legitimamente pode ser mais facilmente compreendida se houver entendimento do que significa a cultura de massa e sua difusão através de veículos de comunicação poderosos.

REFERÊNCIAS
ABUSO SEXUAL. VEJA. 26 jul. de 2006. 1966 ed. n. 29.
ECO, Humberto. Apocalípticos e Integrados. São Paulo. Editora Perspectiva, 1970.
IANNI, Octávio. A Sociedade Global. 1992.
Santos, Milton. Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Record, 2000.
SILVA, Wilson H. Disponível em: <http://www.a dital.com.br/ site /noti cia.asp?lang=PT &co d=23 644> Acessado em: 01:44 em 24/11/2006.
TVE - TV EDUCATIVA. Programas Históricos. Disponível em: < http://www.tve b rasil.com.br/ace rvo/p ro gram as.asp> TVE Programas Históricos.


[1] Graduanda do 5º Período de Biblioteconomia da Universidade Federal do Espírito Santo.
[2] Graduanda do 5º Período de Biblioteconomia da Universidade Federal do Espírito Santo.
[3] Milton Santos, geógrafo e humanista brasileiro, autor de mais de 40 livros, entre eles “Por uma outra globalização”, publicado em 2000.
[4] Octávio Ianni, sociólogo brasileiro, nasceu em Itu, São Paulo em 1926 e morreu em 4 de abril de 2004.
[5]De acordo com o IBGE, em 2002, o Brasil apresentava 32,1 milhões de analfabetos funcionais, o que equivale a 26% da população com 15 anos ou mais de idade, instalados em 40% dos municípios menores.
[6]Dos 5.560 municípios brasileiros apenas 4.603 possuem as 14.000 bibliotecas do país e 80% de seus freqüentadores são estudantes.
[7] De 100 livros vendidos 73 vão para as estantes de pessoas das regiões mais ricas do Brasil. O brasileiro lê 1,8 livro/ano e 90% das cidades brasileiras não têm livraria.
[8] Ativista do Movimento Negro no Brasil